5 de julho de 2024

e lá fora um grande silêncio




Meto-me para dentro, e fecho a janela.

Trazem o candeeiro e dão as boas-noites.

E a minha voz contente dá as boas-noites.

Oxalá a minha vida seja sempre isto:

O dia cheio de sol, ou suave de chuva,

Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,

A tarde suave e os ranchos que passam 

Fitados com interesse da janela, 

O último olhar amigo dado ao sossego das árvores, 

E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,

 Sem ler nada, sem pensar em nada, nem dormir, 

Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,

E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.


"O Guardador de Rebanhos". In Poemas de Alberto Caeiro.

(Fernando Pessoa).

Sem comentários: