18 de julho de 2024

Há razões para tentar explicar



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A esperança média de vida nos EUA está a baixar, ao contrário do que seria de esperar num país da OCDE. Estava perto dos 80 anos há pouco tempo e começou a baixar e agora está na casa dos 76/77, enquanto que os outros países mais ricos estão a caminhar no sentido dos 85. E a questão é que esta taxa é explicada pela morte de pessoas nos 20, 30, 40, 50, adultos ainda jovens. A causa fundamental é a morte por overdose, que tem já um terço das mortes acidentais. Estão morrer cerca de 100 mil americanos por ano de overdose, sobretudo de Fentanil, que veio substituir a terrível Oxy. É cinco vezes mais do que em 2000. Quando tomou posse em 2016, Trump mencionou a "carnificina americana", o que surpreendeu as elites das costas. "Ele está a falar do quê? De onde vem este pessimismo apocalíptico?", perguntaram entre o gozo e o espanto. Esse pessimismo advinha desta epidemia que dura há já uma geração histórica (25 anos), e que está a dizimar regiões associadas à velha classe de colarinho azul e à small town americana.


Há aqui em jogo algo que até é pré-covid: as mortes de desespero, como lhe chamou o nobel da economia Angus Deaton; mortes geradas pelo capitalismo 2.0 da última geração. Estamos a falar de muita gente a morrer cedo demais num país alegadamente rico e próspero. Entre 1990 e 2017, a droga e o álcool foram responsáveis pela morte de 1.3 milhões de pessoas em idade laboral; o suicídio foi responsável por 570 mil mortos no mesmo período. Angus Deaton está a dizer isto há muito tempo: durante 200 anos, o capitalismo elevou da pobreza a população ocidental, mas durante os últimos 25 anos aconteceu o oposto; as deslocalizações e constantes inovações levaram à destruição da classe do colarinho azul, sobretudo no campo masculino, e isso teve consequências.

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Sobre as mortes de desespero provocadas pelo capitalismo dos últimos 25 anos, podemos ler muita coisa. Em França, devemos ler os romances de Edouard Louis e a memória de Didier Eribon. Os romances de Louis sobre a ex-classe operária francesa fazem lembrar os filmes de Ken Loach sobre a ex-classe operária inglesa, como "I, Daniel Blake". Não por acaso, escreveram um livro a meias. Nos EUA, "Hillbilly Elegy" é incontornável, tal como "Invisible Child". Da Escócia chega "Poverty Safari", e da Inglaterra "Chavs".

EXPRESSO 👈👈👈

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