15 de setembro de 2024

Entre flores murchas



Ficarei deitada entre flores murchas e molhadas 

como o pássaro que ignora estar caído e morto

 sobre pedras íntimas escorregadias de sal 

no chão de tábuas de um quarto crepuscular 

ou sobre as lajes nuas de uma praça onde se nasce e morre sem pausa e sem dor. 

Será talvez assim numa praça que não se atravesse nunca vagamente 

por estar finalmente a cumprir-se o oráculo 

ao dormir amante sobre o ventre de mãe 

da única alva de amor partilhada 

com cordas de chuva a rasgarem-me o dorso 

e a mesma violência de ritmo bendito com que me empurraste contra as tábuas da barcaça


há quatro séculos e um dia em Bruges. Era Setembro tanto faz.


Ana Margarida Falcão

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