1 de setembro de 2024

Morrerei de não viver (poesia)

 


Era uma vez duas vezes.


E como nunca há duas sem três, 

algum castigo tens guardado para mim.


Não sei se me roubarás os livros, 

se me esconderás os melros,

se me negarás os beijos. 

Alguma coisa destas tu farás.


Podes roubar-me os livros.

Hei-de recuperá-los, verso a verso, 

como a aranha que reconstrói a teia, 

como o pensamento que reconstrói a ideia,

como o vento que reconstrói a areia.


Podes esconder-me os melros.

Saberei cantar.

Darei asas à minha esperança 

para a ver poisar em todos os verdes, 

brilhar em todos os muros, 

debicar todos os desejos. 


Não me negues os beijos.

Morrerei de fome.

E de sede.

E de saudade.

Morrerei de te ver e não te ter.

Morrerei de não morder a tua boca.

Morrerei de não viver.

Morrerei.


Joaquim Pessoa

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