Os novos judeus (do Holocausto)
Qualquer pessoa que saiba História é muito prudente nas comparações da actualidade com os anos trinta do século passado. Ela tem o efeito perverso de ocultar o que é novo e permitir comparações enganadoras, e isso prejudica o conhecimento da realidade e torna a acção ineficaz. Muita coisa mudou nestes anos, mas há mecanismos que são os mesmos e há um fundo de repetição, seja, como escreveu Marx, primeiro como tragédia, depois como comédia. O problema é que, muitas vezes, a comédia torna-se tragédia, e como, contrariamente ao lugar-comum, nunca se aprende com a história, estamos sempre a apanhar com variantes da Lei de Murphy: se pode correr mal, é muito provável que corra mal. Mesmo assim, mais vale saber com que linhas nos cosemos, ainda que elas nos cosam mesmo.
Voltemos aos anos trinta, de ascensão do fascismo e do nazismo, que desembocam na terrível Segunda Guerra Mundial. Entre as coisas que são parecidas, encontra-se o clima europeu do acordo de Munique, que, em conjunto com o Pacto Germano-Soviético, abriu caminho para a guerra. Na altura, entregou-se a Checoslováquia e partilhou-se a Polónia. Agora, com a traição americana e a moleza europeia, quer-se obrigar a Ucrânia a render-se em nome da "Paz", com todas as aspas.
E há muito, mas mesmo muito, de semelhante na demonização dos imigrantes nos tempos de hoje. Sem dúvida que há problemas sérios com a imigração e muitos erros cometidos no passado e outros no presente ao lidar com esse processo. Mas não são os problemas reais da imigração, que são problemas de governação, sociais, religiosos e culturais, que tornam os imigrantes o centro de um discurso populista, racista e nacionalista, é outra coisa. E é essa outra coisa que permite a comparação com os anos trinta.
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