27 de agosto de 2024

Diz-me (poesia)

 


DIZ-ME O TEU NOME

Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, 

um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. 

Escreve-o na minha mão com os teus dedos 

- como as poeiras se escrevem, irrequietas, 

nos caminhos e os lobos mancham o lençol 

da neve com os sinais da sua fome. 

Sopra-mo no ouvido, como a levares 

as palavras de um livro par dentro de outro

 - assim conquista o vento o tímpano das grutas 

e entra o bafo do verão na casa fria. 

E, antes de partires, pousa-o nos meus lábios devagar: é um poema açucarado que se derrete na boca e arde

como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.


Maria do Rosário Pedreira 


in NENHUM NOME DEPOIS 

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