15 de agosto de 2024

Pedaço de prosa

 



Os meus Olímpicos foram melhores do que os seus

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E gostei da internet. Pelos memes e pela criação de um novo item: a “aura”. Quem foi o atleta com mais aura? A que se referiam? À “energia emanada nas crenças espirituais”, ou se à deusa grega da brisa? Não foi nem o nadador italiano Thomas Ceccon — esse sim, com ar de deus grego, a mostrar “descuidadamente” a virilha —, nem a verborreica confiança do medalhado dos 100 metros Noah Lyles, nem o brasileiro campeão de surf em pose a pairar sobre uma onda no Taiti. A coisa repartiu-se na modalidade de tiro. A medalha de ouro desta “luz” dividiu-se entre a jovem sul-coreana Kim Yeji, com ar ciborgue, pose ultracool e peluche no bolso, que a Geração Z tornou numa deusa, e o turco Yusuf Dikeç, nos antípodas, um cinquentão sem tecnologia, com ar indiferente e com a mão no bolso e pistola em riste, que conquistou os X e os boomers. O “tipo normal”, o vizinho que foi ali disparar e voltou para beber a sua cerveja. Vi horas e horas disto tudo e acho que não vi nenhum jogo/competição do princípio ao fim (isso é para quem gosta de desporto). E vi como o mundo, apesar dos pesares, ainda é tão vibrantemente diverso. Embora cheio de gente muito chata. Que lá tiveram um Grande Satã dourado a descer sobre a cerimónia de encerramento para comprovar já não sei bem o quê.


Luis Pedro Nunes 

EXPRESSO 

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