11 de agosto de 2024

Poema da eterna presença

 


***


Mas não esqueci tudo.

Guardei a memória da treva, do medo espavorido do homem da caverna

que me fazia gritar quando era menino e me apagavam a luz;

guardei a memória da fome;

da fome de todos os bichos de todas as eras, que

me fez estender os lábios sôfregos para mamar

quando cheguei ao mundo;


guardei a memória do amor,

dessa segunda fome de todos os bichos de todas as eras,

que me fez desejar a mulher do próximo e do distante;


guardei a memória do infinito, daquele tempo sem tempo,

origem de todos os tempos, em que assisti, disperso, fragmentado, pulverizado,

à formação do Universo.


Tudo se passou defronte de partes de mim.

E aqui estou eu feito carne para o demonstrar,

porque os átomos da minha carne não foram

fabricados de propósito para mim.


Já cá estavam.

Estão.

E estarão."


António Gedeão 💜

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