Diz de si a autora desta obra, Olga Tokarczuk - "sempre gostei de estar comigo mesma".
"Daqui a pouco, apear-se-á um sapato esquerdo, castanho, de couro, não muito novo, e logo a seguir outro, o direito; este parece ainda mais surrado – a biqueira está levemente desgastada e a gáspea mostra umas manchinhas mais claras em vários pontos.”**************
É como se alguém nos estivesse a mostrar a fotografia de um viajante destapando-a lentamente de baixo para cima. Ou uma câmara nos mostrasse esses instantes inaugurais de um homem numa estação de comboios, a chegar não se sabe ainda de onde, indeciso quanto ao que fazer ou para onde ir, um homem que para se apear terá trocado o colarinho branco da camisa, “pois a sua brancura é mais clara do que a da própria camisa e contrasta com o tom terroso da tez do recém-chegado”, que tem olhos claros, pestanas e sobrancelhas louras, e cuja figura, “no pano de fundo do céu poente intensamente vermelho”, parece ter vindo “do Além”. Saberemos que tudo se passava num setembro já outonal, de folhas caídas.
Luciana Leiderfarb
Jornalista//Expresso
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