Pego num pedaço de silêncio. Parto-o ao meio, e vejo saírem de dentro dele as palavras que ficaram por dizer.
Umas, meto-as num frasco com o álcool da memória, para que se transformem num licor de remorso; outras, guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntar o que significam.
Mas o silêncio de onde as palavras sairam
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só o silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.
Nuno Júdice. A matéria do poema.
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