26 de maio de 2024

NÃO PASSARÃO

 












Não desesperes, Mãe! 


O último triunfo é interdito 

Aos heróis que o não são: 

Lembra-te do teu grito:

"Não passarão"!

Não passarão!


Só mesmo se parasse o coração 

Que te bate no peito.


Só mesmo se pudesse haver sentido 

Entre o sangue vertido 

E o sonho desfeito.


Só mesmo se a raiz bebesse em lodo 

De traição e de crime.


Só mesmo se não fosse o mundo todo 

Que na sua tragédia se redime.

Não passarão!


Arde a seara, mas dum simples grão 

Nasce o trigal de novo. 

Morrem filhos e filhas da nação, 

Não morre um povo!

Não passarão!


Seja qual for a fúria da agressão,

As forças que te querem jugular 

Não poderão passar 

Sobre a dor infinita desse não 

Que a terra inteira ouviu 

E repetiu:

Não passarão!


Miguel Torga 

(de "Poemas Ibéricos", 1965)


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Durante a Guerra Civil Espanhola (1936–39), foi usado na Batalha de Madrid na sua famosa versão castelhana «¡No pasarán!» por Dolores Ibárruri Gómez, La Pasionaria, uma das fundadoras do Partido Comunista da Espanha, que o tirou de um cartaz produzido pelo pintor Ramón Puyol para os republicanos.

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