Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são:
Lembra-te do teu grito:
"Não passarão"!
Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.
Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na sua tragédia se redime.
Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!
Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!
Miguel Torga
(de "Poemas Ibéricos", 1965)
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Durante a Guerra Civil Espanhola (1936–39), foi usado na Batalha de Madrid na sua famosa versão castelhana «¡No pasarán!» por Dolores Ibárruri Gómez, La Pasionaria, uma das fundadoras do Partido Comunista da Espanha, que o tirou de um cartaz produzido pelo pintor Ramón Puyol para os republicanos.
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