Quando um historiador de 95 anos que escreve muito bem vai à gaveta dos textos esquecidos para recordar quem foi, só pode vir ao mundo um livro luminoso. É o caso de “Crónicas e Discursos”, de António Borges Coelho, agora lançado pela Caminho. São punhados de história pessoal e coletiva que uma pena sensível transformou em testemunhos de um tempo já passado. Assim, o nome dos capítulos nos situa no mapa de ação de um homem que esteve nove anos preso durante o Estado Novo e que, enquanto progredia na academia para se tornar professor catedrático, foi escrevendo em jornais e revistas, e falando, oferecendo-nos hoje o resultado dessas intervenções.
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Outro tesouro intemporal, um texto que contém frases como esta: “O infortúnio obriga-nos a conhecer como real aquilo que não acreditamos ser possível.” É “A Experiência de Deus”, título dado a um conjunto de escritos que Simone Weil incorporou no seus “Cadernos de Marselha”, entre 1941 e 1942, estava ela em trânsito com os pais, de Paris para aquela cidade do sul de França, a fugir da ocupação nazi.
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Jacobsen escreveu-o em 1880, cinco anos antes de morrer de tuberculose e depois de traduzir para a sua língua “A Origem das Espécies” de Darwin – ele que estudou botânica e biologia, e era um naturalista e ateu muito admirado por Strindberg e por Ibsen. “Niels Lyhne”, por sua vez, além de ser o livro de cabeceira de Rainer Maria Rilke – que o cita em “Cartas a um Jovem Poeta”, notando que este livro e a Bíblia são os únicos que vale a pena ler -, foi também um texto importante para Kafka, Joyce e Thomas Mann.
Luciana Leiderfarb
Jornalista - Expresso
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