Gritava como se estivesse só no mundo,
como se tivesse ultrapassado toda a companhia e toda a razão
e tivesse encontrado a pura solidão.
Gritava contra as paredes, contra as pedras, contra a sombra da noite.
Erguia a sua voz como se a arrancasse do chão,
como se o seu desespero e a sua dor
brotassem do próprio chão que a suportava.
Erguia a sua voz como se quisesse atingir com ela
os confins do universo e aí, tocar alguém,
acordar alguém, obrigar alguém a responder.
Gritava contra o silêncio.
Sophia de Mello Breyner Andresen
In "Gritava contra o Silêncio"
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