8 de agosto de 2024

Bailarinas de corda



«Quando a autora nos convoca a ler estas mulheres, bailarinas de corda, convida-nos para um caminho dançante que nos vai apurando sentidos, sendo que - ao mesmo tempo que os aperfeiçoamos serenamente - vamos integrando partes de nós e conhecendo partes de outras, concomitantemente à descoberta da mulher autora - a que atende à natureza, a que está enlaçada com os outros na sua subtileza observante enquanto navega pelo sentir de cada uma das mulheres a quem tributa os seus poemas. (...) Bailarinas de corda são mulheres sábias, mulheres que se revelam no dar ao outro, mulheres que cuidam e outras que, numa passividade serena, são capazes de esperar pelo que a vida lhes possa aportar. Mas, algumas mulheres, como descreve a autora, só encontram consolo no luar, porque é grande o vazio sentido que só incrementa o cansaço. Outras ainda, são poetisas, psicanalistas, professoras, mães.... Umas, como refere a autora, visíveis desde a raiz, ao passo que outras, escondendo a sua essência, apenas mostram a beleza ao outro maquilhando o sofrimento. Revelam-se aqui mulheres, bailarinas de corda, distintas no que respeita ao seu sentir e ao agir, cujas palavras as vão modelando e transformando.»

Isabel Mesquita (do prefácio)

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LÍLIA TAVARES, in BAILARINAS DE CORDA 

Há mulheres que já não choram. São rios subterrâneos os seus olhos. Calaram o ruído das águas para não acordarem a volúpia. Vedaram-lhes caminhos, aqueles que as conduziam apressadamente ao princípio do prazer. Se ainda assim, tentarem passar os arames e deixarem agarrados nas cercas pedaços de si, dos panos dos vestidos e até lágrimas de sangue, não lhes sobrará força para rastejarem nas veredas do deleite. Não gritam. Secaram-se nelas as palavras. Não fogem. Já se esquivaram de dentro dos seus corpos há muito. Parecem sepulcros fechados por chaves que se perderam. Esperam ocas, apetecidas, armadilhadas, como se pudessem ex(im)plodir de prazer.

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