5 de agosto de 2024

Não partas (poesia)

 









































Se partires, não me abraces - 
a falésia que se encosta uma vez ao ombro do mar 
quer ser barco para sempre e sonha 
com viagens na pele salgada das ondas.


Quando me abraças, pulsa nas minhas veias
a convulsão das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios; 
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim 
é como um vento a corrigir a rota do navio.
 Se partires, não me abraces -

o teu perfume preso à minha roupa 
é um lento veneno nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz senão enumerar 
as próprias feridas (como a falésia conta as embarcações perdidas nos gritos do mar); 
e o rosto espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.

Se me abraçares, não partas.


Maria do Rosário Pedreira 

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