10 de agosto de 2024

Os olhos da amada

Ó minha amada

Que olhos os teus 

São cais noturnos 

Cheios de adeus 

São docas mansas 

Trilhando luzes 

Que brilham longe 

Longe nos breus... 

Ó minha amada 

Que olhos os teus 

Quanto mistério 

Nos olhos teus 

Quantos saveiros 

Quantos navios 

Quantos naufrágios 

Nos olhos teus... 

Ó minha amada 

Que olhos os teus 

Se Deus houvera 

Fizera-os Deus 

Pois não os fizera 

Quem não soubera 

Que há muitas eras 

Nos olhos teus. 

Ah, minha amada

De olhos ateus

Cria a esperança

Nos olhos meus

De verem um dia

O olhar mendigo

Da poesia

Nos olhos teus.


Vinicius de Moraes 

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