15 de novembro de 2025

Henrique Monteiro opina



Existe um óbvio conservadorismo no modo como a sociedade aborda certos assuntos. O exemplo do que se passa com os sindicatos é apenas um deles. O mesmo ocorre com partidos ou com quaisquer outras instituições; o seu valor atual pouco conta, em comparação com o papel que já desempenharam. É o caso do BE, que tem imensamente mais palco do que o JPP ou o PAN, apesar de todos terem apenas um deputado; ou o CDS que vale muito menos do que já valeu, ou os sindicatos que representam 1/3 dos trabalhadores que representavam há 30 anos.

Estas organizações só têm um meio de fugir à irrelevância a que o eleitorado ou os associados as remetem: agitar bandeiras, organizar medos, influir cabeças fracas ou causar impacto nas rotinas dos cidadãos. O partido de André Ventura, que começou por ser unipessoal, há seis anos, foi pela berraria, pela demagogia e pela radicalidade que se afirmou. Outros, fazem o mesmo, não tão descarada e vergonhosamente, mas de forma também ela populista e agitadora de receios. Entre todos, o caso dos sindicatos, nomeadamente os mais ativos, que são os da CGTP, é o mais interessante.


Repare-se que, de acordo com o seu próprio discurso, as condições para os trabalhadores estão cada vez pior. Ou seja, poderíamos concluir que o seu papel na defesa dos assalariados é nula ou quase nula, uma vez que, longe de melhorarem a sua vida, deixam que ela piore. Apesar de reconhecerem que vivemos num país democrático, em que os dirigentes são decididos pelos eleitores, os governos traem constantemente o que dizem, enganando os pobres trabalhadores que, uma e mais outra vez se deixam enganar. E, ainda que haja partidos que defendem, no essencial, o mesmo que os sindicatos e que clamam que não basta mudar de Governo, mas que é preciso mudar de políticas, estes eleitores votam tais partidos a resultados próximos da irrelevância, e mantêm não só as políticas como os governantes. Pior: elegem aos magotes aqueles que mais detestados aparentam ser pelos ativistas sindicais e seus aliados políticos: a extrema-direita. Se isto não bastasse, os estudos indicam que a transferência de votos é direta entre o eleitorado que há pouco queria uma nova política e agora prefere uma política de ‘três Salazares’.

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