13 de novembro de 2025

Mais de centro

Vejam como são as coisas. Se, há 60 anos, duas pessoas se fechassem numa sala com um homem e apertassem com ele, perguntando-lhe insistentemente se ele era de esquerda, e ele resistisse a responder, esse homem seria um herói. Na semana passada foi exactamente isso que aconteceu a António José Seguro — e ele foi criticado. Duas jornalistas do “Público”, Ana Sá Lopes e Maria Lopes, submeteram-no a intenso interrogatório, mas ele bateu-se muito bem, e surpreendeu: naquela inquirição, foi o interrogado que recorreu à tortura do sono, dando as respostas mais chatas de que se lembrou. Por exemplo, quando lhe perguntaram “é um homem de esquerda, certo” optou por responder à pergunta imaginária “como definiria a sociedade portuguesa?”, e disse: “a sociedade portuguesa é uma sociedade profundamente dividida. Há demasiadas divisões, e muitas das divisões são artificiais”. As jornalistas/inspectoras insistiram. Perguntaram se os valores de Seguro não estariam um pouco mais à esquerda que os de Marques Mendes e Gouveia e Melo. Era uma pergunta mais fácil, porque em teoria é possível estar à esquerda de Marques Mendes e Gouveia e Melo sem se ser de esquerda. Mas Seguro não cedeu, e pediu que parassem de “distribuir rótulos pelas pessoas” e de as “encaixar em gavetas e em departamentos”.

Dias depois, na RTP, Seguro encaixou-se numa gaveta e num departamento, quando disse ao jornalista Vítor Gonçalves que se tinha exprimido mal, e que era inequivocamente de esquerda. E acrescentou, para justificar o erro: “sou um ser humano”. Esta última informação talvez seja mais danosa do que a primeira. Se Seguro receava que o eleitorado o rejeitasse por ser um candidato de esquerda, devia recear mais ainda que os cidadãos ficassem a saber que ele é um ser humano, tendo em conta a quantidade de eleitores que parecem preferir um ser desumano.

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