Ninguém pedirá a Ronaldo uma opinião sobre, digamos, Søren Kierkegaard, ou sobre a exegese da mística de Fernando Pessoa. Jamais lhe perguntarão o que pensa sobre a evolução da quântica na computação ou o possível desvio da Corrente do Golfo. Qual a razão de se achar que o seu encontro com Donald Trump tem algum significado para o país?
Vivemos com a ideia de que tudo se pode misturar, mesmo a nobreza de carácter com a falta de vergonha. E o pior é que, apesar disso, estamos sempre dispostos a julgar pelos nossos parâmetros as atitudes dos outros. Digamos que uma das notícias da semana foi o facto de Cristiano Ronaldo acompanhar o príncipe herdeiro da Arábia Saudita a um jantar com Trump, na Casa Branca. Nessa ocasião, o Presidente dos EUA, no seu estilo peculiar, aproveitou para dizer que o filho é fã do futebolista e fazer umas piadas sobre o assunto, ao mesmo tempo que o capitão da nossa seleção de futebol aproveitou para umas selfies, enquanto a sua noiva, Georgina, inundava as redes sociais com fotografias de Washington. O assunto motivou orgulho (por exemplo, do selecionador, que é espanhol) e críticas. Estas últimas baseiam-se no facto de a Arábia Saudita estar a usar o desporto para ‘limpar’ a sua imagem.
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Ronaldo é um excelente jogador de futebol (não digo foi, porque entre as suas boas obras, ainda pode dar um título mundial a Portugal), mas não é meu embaixador nem embaixador do meu país. Se exemplo for para alguém, que o seja pela persistência, pela seriedade e empenho que coloca no seu trabalho, e não por razões da ética transcendente ou da geopolítica. “Não julgueis para que não sejais julgados”, a velha frase do Evangelho de Mateus (7:1). Ao fim e ao cabo, o jogo da vida de Ronaldo é com os pés.
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