16 de dezembro de 2025

Clara opina

A única coisa boa é que se percebeu que a vaidade não chega para ocupar o trono presidencial

Dois debates deixaram-me a demonstração destas eleições presidenciais e seus candidatos. Não eram debates vitais, longe disso, apenas uma prova da desvitalização e desqualificação da política portuguesa. Se a eleição presidencial se decidisse numa primeira volta, André Ventura ganharia e seria Presidente. A fazer fé nas sondagens, também desacreditadas e desqualificadas por abuso do recurso, Ventura está à cabeça. As sondagens destinam-se a tornar estas eleições mais interessantes e vivas e falham miseravelmente. As eleições são o que são, uma coleção de presumíveis presidentes que não entusiasmam ninguém.

O debate entre António José Seguro e o almirante Gouveia e Melo foi um penoso exercício de dois alunos com direito a suficiente. Menos. Seguro venceu o debate, sem precisar de se esforçar. Bastou-lhe sair por instante do humor soporífero e benevolente em que mergulha as proposições e mostrar uma unha de agressividade. As palavras Seguro e agressividade são uma contradição nos termos. Nada de substantivo foi dito, mas quando Seguro vislumbrou um flanco descoberto no almirante espetou o florete. Ninguém se feriu com gravidade.

A surpresa maior tem sido o declínio do almirante, que começou vitorioso e imperial, imbuído da luz divina da autoridade e da competência, para cair às mãos do candidato socialista. Do homem antissistema ou fora do sistema ou o que se quiser, passou a ser o candidato do Partido Socialista e o candidato “dos resultados”, uma definição que anula a definição. É verdade, de pin-up da direita centrista e conservadora, amante da bandeira e do hino, o almirante passou a ser de esquerda assim que André Ventura lhe roubou o palco e o proveitoso eleitorado. Gouveia e Melo é agora um recém-chegado esquerdista e socialista que cita Mário Soares e se digladia com o candidato socialista. E perde. Sem eira nem beira, teremos de perguntar o que pensa verdadeiramente o almirante. Talvez nada, o que para um Presidente não é bom.

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Num momento histórico de viragem da ordem internacional herdada do pós-guerra, a pax americana, e quando a União Europeia implode pela incompetência e ambição dos eurocratas de Bruxelas, quando a ordem económica é posta ao serviço da tecnologia e quando os donos da tecnologia perpetuam a opacidade e a capacidade de vigilância e controle dos cidadãos por essa tecnologia e os transformam em criaturas serventuárias da nova ordem económica, os nossos candidatos debatem com mediocridade assuntos medíocres. Zero em visão estratégica, macroeconómica, outra. Conversa de chacha, na definição de Ventura, grande promotor da dita.

O molho de candidatos surge exatamente assim. Não existindo um candidato forte, um propósito forte, todos querem aparecer na fotografia.

No Expresso 

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