31 de janeiro de 2024
Fui ao mar buscar laranjas
O título de hoje pedi emprestado a Pedro da Silveira. O poeta açoriano usou o mesmo para a publicação da sua obra poética, inspirado no cancioneiro popular das ilhas de bruma. A quadra completa é um aviso importante em tempos de pleito eleitoral: “Fui ao mar buscar laranjas, / Que é coisa que lá não tem; / Fui enxuto, vim molhado, / Nem sequer vi o meu bem”.
...
Pedro Filipe Soares
No Expresso // Opinião
Essa lembrança (poema)
Essa lembrança que nos vem às vezes…
folha súbita
que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas…
Essa lembrança…mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida…
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!
Mário Quintana
in “A Cor Invisível”
Opiniões
NO Observador | ||||||
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Na madrugada (hora portuguesa) de 26 de Janeiro de 2024, “Alabama got me so upset”. O foco no gáudio em torno da inovação do método utilizado para a execução de Keneth Smith é requinte de malvadez. |
30 de janeiro de 2024
Tudo se transforma
Cá na minha cozinha, qualquer resto dá uma outra refeição.
Os restos de frango assado ontem, hoje transformaram-se num delicioso "frango à Brás ", parente do famoso "bacalhau à Brás".
É a Lei de Conservação das Massas, do Senhor Lavoisier. 👌
Eu bebo, os brasileiros (d)escrevem
Caio Fernando sabia como se pede: “Um café e um amor. Quentes, por favor.” Clarice Lispector não curava a sua insónia, alimentava-a: com café. Levantava-se a meio da noite, ia à janela, apreciava o silêncio e a quietude da madrugada. Achava a insónia um dom. Gostava da solidão das horas quietas. À mão e por companhia, sempre o mesmo: “E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada.”
Para ti (poema)
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida.
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Antissemitas
O silêncio com que demonstrações públicas de antissemitismo foram recebidas em Portugal é, numa palavra, arrepiante. Noventa anos depois de Hitler, numa democracia cinquentenária como a nossa, as ruas portuguesas viram cartazes com inscrições como “Não queremos ser inquilinos de sionistas assassinos” em Lisboa ou “Nem em Haifa nem na Boavista, fora o capital sionista” no Porto.
Dos partidos que estiveram nestas manifestações, supostamente dedicadas à crise na Habitação, não se ouviu uma palavra de demarcação. Nem do PCP, nem do Livre, nem do Bloco de Esquerda. Dos partidos de Governo, tão pouco.
Sebastião Bugalho
Expresso
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Cabeça de lista do PS pelo círculo do Porto, Francisco Assis considerou que os cartazes, exibidos numa manifestação pelo direito à habitação na cidade Invicta, "filiam-se na propaganda nazi do senhor Goebbels".
O dirigente socialista Francisco Assis condenou esta segunda-feira a presença de dois cartazes antissemitas numa manifestação pelo direito à habitação realizada no Porto, no sábado, e acusou os autores desses cartazes de pertencerem a uma extrema-esquerda "imbecil e semianalfabeta".
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Infelizmente, também há cá disso (antissemitas, imbecis e analfabetos de história)❗
Opiniões
No Observador
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29 de janeiro de 2024
Confessional (poesia)
NADANDO NUS
Na vertente sudoeste de Capri
encontrámos uma pequena gruta desconhecida
onde não havia pessoas e
entrámos nela completamente
e deixámos que os corpos perdessem toda
a solidão.
Todos os peixes que tínhamos em nós
tinham fugido por um minuto.
Os peixes a sério não se importaram.
Não lhes perturbámos a vida pessoal.
Vagueámos calmamente sobre eles
e debaixo deles, soltando
bolhas de ar, pequenas e brancas,
balões, subindo, disseminando-se
rumo ao sol junto ao barco
onde o barqueiro italiano dormia
com o chapéu sobre o rosto.
Água tão límpida que podíamos
ler um livro através dela.
Água tão viva que podíamos
flutuar, apoiados no cotovelo.
Deitei-me nela como num divã.
Deitei-me nela tal e qual como
a Odalisca Vermelha de Matisse.
A água era a minha flor estranha.
Tem de se imaginar uma mulher
sem uma toga ou um lenço
num divã tão profundo quanto uma tumba.
As paredes daquela gruta
eram de todosostons de azul e
tu disseste, “Olha! Os teus olhos
são da cordomar. Olha! Os teus olhos
são da cordocéu.” E os meus olhos
fecharam-se como se ficassem
subitamente envergonhados.
Anne Sexton
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Em 1967, Sexton foi galardoada com o Prémio Pulitzer por Live or Die, apenas uma das muitas distinções que recebeu: a Frost Fellowship to the Bread Loaf Writers’ Conference (1959), o Radcliffe Institute Fellowship (1961), o Levinson Award (1962), uma bolsa da Academia Americana de Artes e Letras (1963), o Shelley Memorial Award (1967) e um convite para fazer a «Palestra Morris Gray» em Harvard. Obteve distinções da Fundação Guggenheim, da Fundação Ford, doutoramentos honoris causa e foi nomeada professora universitária na Universidade de Boston. Ensinou também poesia em Harvard e Radcliffe, sem ter formação académica.
Faróis (poesia)
Faróis distantes,De luz subitamente tão acesa,
De noite e ausência tão rapidamente volvida,
Na noite, no convés, que conseqüências aflitas!
Mágoa última dos despedidos,
Ficção de pensar...
Faróis distantes...
Incerteza da vida...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido...
Faróis distantes...
A vida de nada serve...
Pensar na vida de nada serve...
Pensar de pensar na vida de nada serve...
Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
Faróis distantes ...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
À PROCURA DO CANDIDATO IDÓNEO
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Opiniões
No Observador
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28 de janeiro de 2024
Estes foram os momentos
Foram os momentos em que o PSD perdeu, indiscutivelmente, os votos dos reformados.
Cavaco Silva disse, na televisão (2012), que a sua reforma mal chegaria para as despesas.
Foi duas vezes PM e também fez dois mandatos de Presidente da República.
Foi insuportável de se ouvir.
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O deputado do PSD Carlos Peixoto, em 2013, no jornal i, referiu-se ao fenómeno do envelhecimento como a "peste grisalha". Provocou uma onda de indignação.
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Passos Coelho, no Jornal de Negócios, (17 de Abril de 2015), quis também explicar a decisão anunciada na véspera de apresentar um corte de 600 milhões de euros nas pensões como hipótese de reforma. "Temos um problema na Segurança Social. Ele é indesmentível. O Tribunal de Contas, o Tribunal Constitucional e todos os que estudam as nossas contas públicas admitem que há um problema, principalmente nas pensões públicas", explicou.
Nomeados em conjunto
É difícil pensar em dois homens mais diferentes na história e na vocação do que São Pedro e São Paulo. No entanto, não só são lembrados como dois baluartes da fé e símbolos da própria Igreja Católica, como até partilham o mesmo dia de festa, 29 de Junho.
Nessa data, em 67 D.C. São Pedro e São Paulo teriam sido martirizados em Roma durante as perseguições ordenadas pelo Imperador Nero contra os cristãos.
É plausível que a escolha de comemorar a morte dos santos Pedro e Paulo no dia 29 de Junho resulte do desejo de converter uma festa pagã numa celebração cristã, como tem acontecido ao longo dos séculos em muitos outros feriados religiosos. De facto, 29 de junho coincidiu com a festa de Rómulo e Remo, os fundadores de Roma. Os cristãos provavelmente queriam prestar homenagem aos dois fundadores da Igreja nesse mesmo dia, como se fosse para celebrar o nascimento de uma nova Roma cristã.
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A contrario sensu, nós temos um dizer em Português, para quando comparamos duas pessoas com os seus defeitos: "tão bom é Pedro como é Paulo".
Tem um sentido de desconsideração.
É aparentada com a outra nossa expressão "venha o diabo e escolha".
Fonte (poesia)
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo —
cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.
Ninguém falava dela, porque
era imensa. Mas todos a sabiam
como a teta. Como o odre.
Algo sorria dentro de nós.
Minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente. Meu pai lia.
Sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
Era a fonte.
Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
A lua formava-se
com uma ponta subtil de ferocidade,
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.
Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e renasceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.
Herberto Hélder
Agora nunca é tarde (poesia)
Ver poema completo
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Cada um de nós nasce com um artista lá dentro
Cada um de nós nasce
Com um artista lá dentro
Um poeta, um escultor, um aventureiro
Um cientista, um pintor, um arqueólogo
Um estilista, um astronauta, um cantor
Um marinheiro
E o sonho e a distância, e o tempo e a saudade
Deram-nos vida, amor, problemas, mentiras e verdade
E damos por nós mesmos descobrindo que agora
Agora se calhar, já é um pouco tarde
...
Pedro Barroso
Opiniões
No Observador
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Uma das formas mais comuns de aparecer é a que acontece quando nos vemos ao lado das pessoas já consensualmente aparecidas aos olhos de tantos.Temos uma paixão por famosos porque eles vivem aparecidos. | |||||||||
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Ao ler todos os dias as duas séries do Diário da República repetimo- -nos avisos, leis, preâmbulos, murmúrios de metafísicas, listas, reprimendas e contas: coisas para a eternidade, coisas para ontem. |