15 de janeiro de 2024

Quem me quiser (poema)







Quem me quiser há-de saber as conchas

as cantigas dos búzios e do mar.

Quem me quiser há-de saber as ondas

e a verde tentação de naufragar.


Quem me quiser há-de saber as fontes,

a laranjeira em flor, a cor do feno,

a saudade lilás que há nos poentes,

o cheiro de maçãs que há no inverno.


Quem me quiser há-de saber a chuva

que põe colares de pérolas nos ombros

há-de saber os beijos e as uvas

há-de saber as asas e os pombos.


Quem me quiser há-de saber os medos

que passam nos abismos infinitos

a nudez clamorosa dos meus dedos

o salmo penitente dos meus gritos.


Quem me quiser há-de saber a espuma

em que sou turbilhão, subitamente

– Ou então não saber coisa nenhuma

e embalar-me ao peito, simplesmente.


Rosa Lobato de Faria 

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