PEDRAS
A pele rugosa da sua mão ainda a sinto na minha. Era pedreiro, como eu; haverá nome mais exacto para o meu oficio? O velho não suspeitava que seria um dia como ele: paciente, afável, sonhador, trabalhando de sol a sol. Apenas com menos talento. Também os materiais fazem alguma diferença as palavras, da pedra não guardam o peso, herdam apenas a cor. As minhas, têm ás vezes a brancura lisa dos seixos, mas outras, a noite parecia ter nelas encontrado refúgio. São as mais secretas, com elas poderia fazer-se uma coroa de relâmpagos. No entanto, eu prefiro aquelas com que se disfarça a ternura, tenuemente veladas pela luz do crepúsculo, com raros brilhos ocasionais. Exactamente o que o velho pedia à pedra.
Eugénio de Andrade, Poesia, Vertentes do Olhar, Assírio & Alvim.
Sem comentários:
Enviar um comentário