29 de janeiro de 2025

Definir "chunga"

RECORTE DE IMPRENSA 




O caso das malas roubadas pelo deputado do Chega é o dado que exemplifica na perfeição a minha tese sobre o populismo, em geral, e sobre o Chega, em concreto: é a revolução chunga.

É o triunfo de uma atitude que, em bom português, só pode ser descrita com a palavra “chungaria” ou “gunedo”, uma adaptação dessa grande palavra do léxico portuense: o guna.

“Chunga” não é sinónimo imediato de “pobre”. Há ricos chungas como o Trump. O pobre, aliás, pode ser o grande rival e crítico do chunga; o pobre do porte austero que preza o trabalho sério e a educação, quer nos modos, quer nos estudos; o pobre que preza o bom nome; o pobre que não faz da pobreza uma bandeira, uma identidade, um destino, uma linguagem; o pobre que não faz do ódio ao rico ou “elite” a sua bandeira. Ora, o chunga é o pobre ou remediado que vive dos estereótipos da pobreza feita pelos tais snobes do outro lado: feios, porcos e maus, trapaceiros, preguiçosos, mal-educados. É esta a sua identidade; o chunga veste-se e fala de uma dada maneira, porque acha que a discrição e a boa educação não são valores universais, mas sim marcas de classe, a classe dos ricos, da elite. A pessoa que não tem vergonha de ser boçal é o chunga.

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