21 de junho de 2023

Poesia de Namora



Balada de Sempre


Espero a tua vinda

a tua vinda,

em dia de lua cheia.


Debruço-me sobre a noite

a ver a lua a crescer, a crescer...


Espero o momento da chegada

com os cansaços e os ardores de todas as chegadas...


Rasgarás nuvens de ruas densas,

Alagarás vielas de bêbados transformadores.

Saltarás ribeiros, mares, relevos...

- A tua alma não morre

aos medos e às sombras!-


Mas...,

Enquanto deixo a janela aberta

para entrares,

o mar,

aí além,

sempre duvidoso,

desenha interrogações na areia molhada...


Fernando Namora, in 'Relevos'

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Intimidade 

Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao
                                                             [mundo.
Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não o afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"


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