O espelho
Jorge Barreto Xavier // opinião
Detestava os elogios, as lisonjas. Bastava-se de tal forma, que não só o incomodava ser valorizado por seres que considerava não estarem ao seu nível, como sentia não haver quem pudesse admirar.
...
Envelheceu.
Um dia, ao levantar-se, olhando-se ao espelho, não se viu. Poisou os olhos nos móveis, na cama, no tapete. Estava tudo no lugar. Exceto a sua magnificência, que, por uma razão que desconhecia, não se refletia. Refletiu no que significava a ausência de reflexo.
Percebeu que era a sua própria ausência.
Depois de uma vida repleta de glórias supremas, chegara ao desaparecimento.
“Magnífico!” – pensou. “Magnífico!”. Magnífico!”.
E assim era, de facto.
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