Ah nada pior que a casa deserta, 
sozinha, sozinha.
O fogão apagado e tudo sem interesse. 
O mundo lá longe, para lá da floresta.
E o vento soprando 
a chuva caindo 
a casa deserta...
Ah nada pior que estes dias e dias, 
de cachimbo aceso, com as mãos inertes, 
com todas as estradas inteiramente barradas,
 ouvindo a floresta.
Com tudo lá longe, na casa deserta,
o vento soprando
e a chuva caindo, na noite caindo...
Há uma cancela que range nos gonzos 
um velho cão de guarda que ladra sem motivo
-parece que é gente que vem a entrar...
E é só vento soprando, soprando 
e a chuva caindo...
Mudaram muita vez as folhas da floresta. 
Os olhos do homem são olhos de doido. 
Fogão apagado, aceso o cachimbo, 
o mundo lá longe.
E o vento soprando 
a chuva caindo 
a casa deserta
Mário Dionísio