1 de abril de 2025

Manosfera



Parece que existe uma manosfera. Sempre existiu, sem ter meios de comunicação tecnoinclusivos ou nomenclatura e sociologia a gosto. Welcome to my world.

No mundo em que nasci, o da expansão económica do pós-guerra, e do nascimento das marchas e lutas dos direitos civis, a violência masculina era um dado adquirido. Nascer mulher era não só nascer imiscuída nessa violência e prisioneira dela como nascer forçada a aceitar essa violência. E considerá-la parte do estádio civilizacional da época. Ou seja, normal.

Começava em casa. O pai, ou pater familias, era o único detentor do poder paternal, do poder financeiro e do poder disciplinador, que exercia com maior ou menor benevolência. A mãe era o polícia bom, o pai o polícia mau, chamado a depor no tribunal do casal sempre que havia a ameaça de desobediência ou rebelião. Os pais eram os donos dos filhos e batiam nos filhos. O pai batia com o cinto, a mãe com as mãos. Lembro-me de uma família vizinha, pai, mãe, cinco rapazes, que eram punidos com o cinto regularmente porque, enfim, criar cinco rapazes era de cinto, para aprenderem. O pai era médico, o que quer dizer que não estamos a falar das famílias das classes baixas, onde a violência era banal e diária, e se ia trabalhar aos 12 ou 14 anos de idade, para ajudar no sustento.


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