Um murmúrio de desassossego correu a Casa, como se alguém tivesse visto um fantasma. Que se passava? Estávamos a meio de sessão com académicos italianos, discorrendo sobre Literatura na Casa Fernando Pessoa, que eu dirigia. O desassossego subiu de tom e uma das minhas assistentes rompeu a sessão para segredar, vem aí o Mario Vargas Llosa. Vem ver a Casa Fernando Pessoa, está a caminho.
Sem aviso. Sem protocolo. Não havia dinheiro para receções, e paguei do bolso uma garrafa de vinho do Porto e uns bolinhos da tasca alentejana em frente à Casa, gente habituada a suplementar uma sessão ou outra com petiscos. A agitação na Casa era fenomenal, a sessão terminada.
Vou à janela, podemos sempre ir à janela nos bairros velhos de Lisboa, e vejo uma baleia branca em passo de caracol tapando a rua estreita. Uma limusina? Ideia do Nelson de Matos, da Dom Quixote. Não era uma tentativa falhada de impressionar Mario Vargas Llosa, era uma manifestação em face da grandeza. O escritor, um pouco embaraçado, saiu da barriga da baleia dando a mão à mulher, Patricia. Corremos a casa, ele queria ver os livros, a biblioteca pessoal do poeta. Um escritor espiando outro.
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