A desumanidade em Gaza obriga o Ocidente a agir. A história deveria obrigar os israelitas a fazer o mesmo
Passou um ano e nove meses desde o ataque do Hamas a Israel. Nesse dia foram cerca de 800 os israelitas que perderam a vida, tragicamente, de forma desumana.
Depois disso, eis o que aconteceu: 60 mil palestinianos mortos, entre os quais mais de 16 mil crianças, e 145 mil feridos. O Governo de Israel arrasou escolas, hospitais, cidades inteiras, desalojou 1,9 milhões de pessoas, deixou todos à fome em Gaza. Tudo isto era já evidente há meses, pelo menos, mas hoje gera alarme universal.
Depois da II Guerra Mundial, um jovem químico que tinha sido detido e deportado para Auschwitz escreveu um livro sobre aqueles dias que lá viveu. O livro começava com um poema, que se lia assim:
“Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher;
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no inverno.
Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa, andando pela rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa, que a doença vos entreve, que os vossos filhos vos virem a cara.”
O autor destas palavras é Primo Levi e o livro chama-se “Se Isto É Um Homem”. É o que hoje, em agosto de 2025, nos devemos perguntar todos os dias.
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Editorial do EXPRESSO
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