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no filme de Woody Allen (“As Faces de Harry”, 1997) - com Robin Williams
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O décimo aniversário da morte de Robin Williams e outros assuntos graves fizeram do homem desfocado uma das minhas companhias de Verão. Reconheço-me nele, sou em grande medida como ele. Não é tanto um lamento, é um facto. Introspectivo, pacífico, tímido, melancólico, educado sem ser simpático, pouco gregário, pouco falador, esquivo, não tenho nitidez. Nas mais variadas ocasiões (algumas divertidas), as pessoas esquecem-se de mim, não estão bem a ver quem sou, têm uma ideia vaga, não gostam nem desgostam, conhecemo-nos mas é como se nunca nos tivéssemos conhecido, evoco episódios que não recordam, converso sobre casos que vivemos juntos sem despertar qualquer reacção, amigos esclarecem que somos apenas conhecidos, namoradas lembram-se de mim como um vizinho que encontram no elevador ao fim-de-semana, primos em primeiro grau tratam-me como primo em oitavo, vizinhos não respondem ao cumprimento, lojistas não me atendem porque não deram por mim, e uma vez num café, é certo que em Paris, levantei umas vinte vezes o braço e saí sem ser atendido.
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Também devo ser dessa categoria dos "desfocados"; houve momentos na vida em que me senti invisível.
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