24 de agosto de 2024

Elegia (poesia)

 

Que quer o vento?

A cada instante

Este lamento

Passa na porta

Dizendo: abre...


Vento que assusta

Nas horas frias

Na noite feia,

Vindo de longe,

Das ermas praias.


Andam de ronda

Nesse violento

Longo queixume,

As invisíveis

Bocas dos mortos.


Também um dia,

Estando eu morto,

Virei queixar-me

Na tua porta

Virei no vento

Mas não de inverno,

Nas horas frias

Das noites feias.


Virei no vento

Da primavera.

Em tua boca

Serei carícia,

Cheiro de flores

Que estão lá fora

Na noite quente.


Virei no vento...

Direi: acorda...


RIBEIRO COUTO 

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