Eu e tu escrevemos poesia, brincamos com as palavras,
Fazemos amor no conjugar das consoantes, das vogais,
Como quem respira ou não sabe fazer mais nada,
Trocamos desejos camuflados, não confessados, como se fossem cartas de amor sem destinatário, somos a soma de cada letra dum abecedário qualquer com que tentamos preencher os vazios da alma, das promessas que codificadas se escondem nas entrelinhas dos nossos versos, nos sinónimos, nas reticências onde nos tocamos sem tocar, como os contornos de um corpo desejado, sob um diáfano negligé de seda... ou cetim, que quase nada esconde e onde a imaginação transborda.
Eu e tu somos anjos em queda num paraíso desavindo, somos o Sol e a Lua, a água e o azeite, o verso e a prosa, somos a inspiração, contínua, dorida e perfumada
Na esperança de que os nossos delírios poéticos, quais devaneios, se encontrem um dia na mesma folha,
No mesmo lugar, no mesmo abraço... no mesmo beijo.
Eu e tu somos o ópio e a adrenalina, a caneta e o papel,
A revoluçáo clandestina que a censura não conseguiu matar,
A folha amarrotada que por vergonha não chegou a ser escrita.
***
Miguel Ângelo Teixeira nasceu a 29 de novembro de 1968, em Almada.
Desde muito cedo, alguns dos momentos mais marcantes da sua vida confundem-se com o prazer de escrever, desde as redações escolares aos poemas escritos durante o serviço militar.
Em 2021 publicou o seu primeiro livro Esses Difíceis Amores, ao qual se seguiu, em 2022, Toco-te (Sentes-me?).
Em 2024 publica Diárias de Um Condenado à Vida, a sua terceira obra de poesia pela chancela da Oficina da Escrita.
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