21 de setembro de 2024

Inocência (poesia)

 

























Vou aqui como um anjo, e carregado

De crimes!

Com asas de poeta voa-se no céu...

De tudo me redimes,

Penitência

De ser artista!

Nada sei,

Nada valho,

Nada faço,

E abre-se em mim a força deste abraço

Que abarca o mundo!


Tudo amo, admiro e compreendo.

Sou como um sol fecundo

Que adoça e doira, tendo

Calor apenas.

Puro,

Divino


E humano como os outros meus irmãos,

Caminho nesta ingénua confiança

De criança

Que faz milagres a bater as mãos.


Miguel Torga, 
in 'Penas do Purgatório"

Sem comentários: