Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
o teu sorriso puro, a tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria somente
um bicho sadio embriagado
na alegria da tua vinha sem vinho.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados.
Eugénio de Andrade,
In "As mãos e os frutos"
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