Mia Couto
(ao meu Pai)
***
No silêncio distraído de uma varanda
que foi o teu único castelo,
ecoam ainda os teus passos
feitos não para caminhar
mas para acariciar o chão.
Nessa varanda te sentas
nesse tão delicado modo de morrer
como se nos estivesses ensinando
um outro modo de viver.
Se o passo é tão celeste
a viagem não conta senão
pelo poema que nos veste.
Os lugares que buscaste não têm geografia.
São vozes, são fontes, rios sem vontade
de mar, tempo que escapa da eternidade.
Moras dentro, sem deus nem adeus.
Mia Couto,
Vagas e Lumes
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