3 de abril de 2023

Marias há muitas

Medvedev, um russo merecidamente feliz
Hoje ainda é um tenista a quem cravam opiniões sobre o que o extravasa e supera. Até certo ponto, é normal. Desportistas com o perfil dele, ornamentados por grandes marcas (Lacoste, no caso), caras da modalidade que praticam e conhecidos pela extroversão comunicadora, como é Medvedev, também abraçam o holofote mediático que sem os consultar lhes pede para serem um exemplo em tudo, uma voz que opina acerca de qualquer coisa. Há um ano, Daniil começou a dizer o que vem repetindo desde então: é “pela paz em todos os países”, a guerra “é muito perturbadora” e sente “muito por todos os jogadores ucranianos e pelo que estão a passar”. Nascido em Moscovo, o poliglota russo vive desde a adolescência em Monte Carlo a bem do seu ténis. Houve até quem escrevesse que provável era que nem tivesse votado nas últimas eleições presidenciais do seu país, mas Medvedev é russo.

Ele não jogou em Wimbledon último por ser russo e o torneio ter banido a participação de tenistas que nenhum papel têm na guerra. Por ser russo, muitos lhe exigiam críticas públicas a Vladimir Putin, sem o básico exercício empático de pensarem que Medvedev terá familiares e amigos na Rússia que sofreriam as represálias de qualquer palavra sua que incomodasse a sensibilidade do senhor à cabeceira da mesa quilométrica no Kremlin. Um ano depois, o tenista que em criança explodia nos ataques de raiva que hoje tempera, sem os esconder, ganhou, no domingo, o Masters 1000 de Miami na semana seguinte a ser finalista em Indian Wells. Onde outrora capitulou, Daniil acaba de prosperar.

Diogo Pombo

Tribuna/Expresso 

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Nós dizemos que "Marias, há muitas". E, pelos vistos, Medvedev também. 

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