1 de novembro de 2024

Acto de contrição (poesia)

 


Pelo que não fiz, perdão!

Pelo tempo que vi, parado,

correr chamando por mim,

pelos enganos que talvez

poupando me empobreceram,

pelas esperanças que não tive

e os sonhos que somente

sonhando julguei viver,

pelos olhares amortalhados

na cinza de sóis que apaguei

com riscos de quem já sabe,

por todos os desvarios

que nem cheguei a conceber,

pelos risos, pelas lágrimas,

pelos beijos e mais coisas,

que sem dó de mim malogrei


— por tudo, vida, perdão!


Adolfo Casais Monteiro



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