1 de novembro de 2024

Menina com bibe (poesia)


Quem foi que roubou 
os meus sonhos brancos de menina 
e me pôs no olhar 
a imensa clareira da tristeza?


Como esquecer aquele tempo 
em que eu brincava com o vento 
e rebolava na erva e cantava com as cigarras 
e me espantava com o desenho das nuvens?
Como não lembrar os dias 
em que nada quebrava a porcelana 
dos lírios de intacta leveza?

À margem de trilhos ao acaso 
vagueio para além de mim 
sem que os pés se amarrem ao chão. 
As minhas mãos, sobre o regaço,
estão trémulas e vazias.

Retenho as lágrimas 
como se dispersasse as chuvas.

Graça Pires

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