6 de novembro de 2024

O Amor voa (poesia)

 Amor e Tempo têm asas.


Pela montanha alcantilada

Todos quatro em alegre companhia,

O Amor, o Tempo, a minha Amada

E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante

Já se viam indícios de cansaço;

O Amor passava-nos adiante

E o Tempo acelerava o passo.


— «Amor! Amor! mais devagar!

Não corras tanto assim, que tão ligeira

Não pode com certeza caminhar

A minha doce companheira!»


Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,

Abrem as asas trémulas ao vento…

— «Porque voais assim tão apressados?

Onde vos dirigis?» — Nesse momento,


Volta-se o Amor e diz com azedume:

— «Tende paciência, amigos meus!

Eu sempre tive este costume

De fugir com o Tempo… Adeus! Adeus!


António Feijó , (1859 -1917) 

in ‘Sol de Inverno’

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