A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores de impostos
. Língua de fogo do não,
caminho estreito e surdo da abdicação,
a poesia é uma espécie de animal no escuro
recusando a mão que o chama.
Animal solitário, às vezes irónico,
às vezes amável, quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora andar descalça
nas areias do Verão.
Eugénio de Andrade
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