Hipócrates, a minha avó e as cabras de Quevedo
Uns esperavam a chegada do ouro das Índias; outros gastavam o que não tinham em veludos de Florença ou em chocolate amargo com especiarias. Ele preferia um livro sobre astronomia à luz da lua de abril.
Ter pensamentos negros», dizia a minha avó, que pouco estudou mas que, no entanto, sabia dizê-lo – esse desânimo da alma que nos esmaga contra o chão, como corolas amassadas de flores arrancadas. Sabedoria de um pequeno mundo antigo feito de poucas palavras, de alguns gestos, do melhor vestido para a feira, de um caderninho de receitas escritas à mão com caligrafia esmerada e da nota de vinte escudos dobrada em quatro para enfiar no bolso do neto quando ele não visse.
A minha avó nunca consultou um dicionário, mas é precisamente esta a etimologia de melancolia: do grego μελαγχολία (melancholía), composto por μέλας (mélas), a escuridão, o negro, e χολή (cholé), a bílis.
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