27 de dezembro de 2024

A memória da memória

 






Não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita.

Não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar.

Fechamos os olhos para garantir a memória da memória.

É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras.

Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo.

O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória.

Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível.

Viver é boiar, recordar é nadar.


Fabrício Carpinejar

Sem comentários: