Djaimilia Pereira de Almeida
O processo de procura de casa em Portugal tornou-se algo mais do que encontrar um lugar para viver — para lá de traços acerca de quem procura, revela muito sobre aquilo em que se transformou o país.
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Há telefonemas, visitas, ofertas, contra-ofertas, obras imaginárias, orçamentos, sonhos, arrelias, melancolia. A investigação imobiliária tornou-se mais do que um passatempo, menos do que uma profissão.
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Ainda que procure, de facto, por uma casa. Interessam-me, por outro lado, os aspectos políticos e económicos da busca, no que ela tem de comum. Vim aprendendo muito sobre localizações e preços, sobre aquilo que as pessoas têm nas suas casas, que observo e absorvo, casas sobre as quais especulo e nas quais me projecto, imaginando como seria a vida ali. Hoje não sei se vejo casas, se as leio. Muitas estão vazias e há cada vez mais casas preparadas para o anúncio, e é muito raro haver livros. Mas ainda aparecem casas que ninguém se deu ao trabalho de arrumar para a fotografia e são as mais interessantes. Fitam-nos de robe e pijama, despenteadas. Então, imagino como desarrumaria eu certa casa, se nela vivesse, onde poria a mesa ou o sofá, o que faria com tantos quartos, ou com tão pouco espaço, que tipo de vizinhança haveria, e passo à seguinte.
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