5 de julho de 2024

Gritava contra o silêncio

 



















Gritava como se estivesse só no mundo,

como se tivesse ultrapassado toda a companhia e toda a razão

 e tivesse encontrado a pura solidão. 

Gritava contra as paredes, contra as pedras, contra a sombra da noite.


Erguia a sua voz como se a arrancasse do chão,

como se o seu desespero e a sua dor

brotassem do próprio chão que a suportava.


Erguia a sua voz como se quisesse atingir com ela

 os confins do universo e aí, tocar alguém,

acordar alguém, obrigar alguém a responder.

Gritava contra o silêncio.


Sophia de Mello Breyner Andresen

In "Gritava contra o Silêncio"



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