Deixo-me assolar por medos, desassossegos,
silêncios velhos, perguntas sem resposta;
tenho anseios de voo
e uma tontura, um enjoo,
que me prende ao chão e trava.
Nada me diverte ou me dispersa.
Nem esta espécie de força, a dizer-se gasta,
que me sustenta;
nem esta imitação de troça estéril,
em nós de água na garganta,
que, num esmagamento pesado, certo,
me fere, me entontece e arrasta;
nem este desalento surdo, feito uma pasta,
colado, virado contra mim, que me alimenta.
Que é feito desse animal, ferido de morte,
que me escoiceava, em cegueiras de justiça?
Espectadora de mim, a desfazer-me, já não sei
se o que mais dói é estar dormente.
Esboço o sorriso idiota de quem não pensa,
a atitude de quem não mais se interessa,
que nova batalha perdida é indiferente,
tudo é tão mau quanto foi noutra qualquer altura,
solto um suspiro, engulo em seco, aperto a boca
e sento-me para trás em desistência.
Lisboa, 28, Julho, 1980
Margarida Faro
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