31 de outubro de 2024

Florbela Espanca e Alentejo

 Árvores do Alentejo









Horas mortas... Curvada aos pés do Monte 

A planície é um brasido... e, torturadas, 

As árvores sangrentas, revoltadas, 

Gritam a Deus a bênção duma fonte!


E quando, manhã alta, o sol posponte 

A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,

Esfíngicas, recortam desgrenhadas 

Os trágicos perfis no horizonte!


Árvores! Corações, almas que choram, 

Almas iguais à minha, almas que imploram 

Em vão remédio para tanta mágoa!


Árvores! Não choreis! Olhai e vede: 

- Também ando a gritar, morta de sede, 

Pedindo a Deus a minha gota de água!


Florbela Espanca, 

in "Charneca em Flor"

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