28 de outubro de 2024

VINHA DIZER ADEUS (poesia)

 













Vinha dizer adeus, mas reparei

Que na faia do pátio era Setembro

Vinha dizer adeus, mas encontrei

Um livro na cadeira do alpendre


Vinha dizer adeus, mas as maçãs

Estavam no forno a assar e esse cheiro

Fez-me parar na porta das manhãs

A relembrar o nosso amor inteiro


Vinha dizer adeus, mas o teu cão

Veio lamber-me os dedos hesitantes

Vinha dizer adeus, mas vi no chão

A manta, ao pé do lume, como dantes


Vinha dizer adeus, mas senti fome

Ao ver a mesa posta para dois

Dálias e o guardanapo com o meu nome

Sem ter havido antes nem depois


Vinha dizer adeus, mas que surpresa

Apassionata... o último andamento

Como se tu tivesses a certeza

Que eu ia chegar nesse momento


Vinha dizer adeus, mas nesse olhar

Vi tanta solidão, tantos abraços

Tantas amendoeiras ao luar

Que me escondi, chorando nos teus braços


Vinha dizer que já não estou contigo

Que este amor singular já não é nosso

Vinha dizer adeus, mas já não digo

Vinha dizer adeus, mas já não posso!


Rosa Lobato de Faria

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