28 de fevereiro de 2025

Um negócio sobre matérias primas

 RECORTE de Imprensa 



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John Carlin gostava tanto do primeiro presidente da África do Sul democrática, com quem privou durante anos, como atualmente detesta o 47º presidente dos EUA. Sim, o agora cronista dominical do diário La Vanguardia não perde oportunidade para zurzir aquele a quem chama “Donald, I, el Loco”. Hoje, como todos os dias desde a sua “coroação” a 20 de janeiro, Donald Trump terá honras mediáticas por receber na Sala Oval o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky. Objetivo: assinarem um “acordo-quadro” que permita “criar condições para um cessar fogo” no país invadido pela Rússia há três anos. Na prática, trata-se de fechar um negócio sobre as matérias primas e os minerais críticos ucranianos. Os detalhes do documento são ainda pouco claros e é provável que muitas cláusulas permaneçam secretas. Basta sabermos algumas das exigências que o antigo artista de entretenimento e promotor imobiliário novaiorquino tem para fazer ao ex-ator e comediante de Krvyi Rih: a Ucrânia fica proibida de entrar para a NATO; Zelensky deve organizar quanto antes eleições presidenciais, não pode recandidatar-se ao cargo que ocupa e tem de reconhecer as perdas territoriais para a Rússia (cerca de 20% da área total do país); as chamadas terras-raras e outras riquezas naturais (gás, petróleo e lítio) passam a ser partilhadas por Kiev e Washington, durante um período temporal (in)definido, através de um “fundo conjunto”. E o senhor da Casa Branca ainda se dá ares de mecenas, após repetir, com a basófia do costume, que o seu país ofereceu à Ucrânia “500 mil milhões de dólares” em armas e ajuda financeira - em rigor foram 114 mil milhões. Em circunstâncias normais, a um ritual deste género chamar-se-ia extorsão. Só que vivemos numa nova era de imperialismo colonial que a revista Economist prefere descrever como “uma luta pelo poder global” e na qual Donald Trump se comporta como “ Don Corleone“.

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